Será
que Sou Lésbica??
Há
algum tempo atrás eu achava que era bem fácil responder essa pergunta, pois bastava
no dicionário ou coisa parecida, ou seja: uma mulher que sente atração por
mulheres. Mas acontece que, quanto mais o tempo passa, mais complicada essa
pergunta me parece.
Dizer
que sinto atração por mulheres não define por completo; parece vazio e não
traduz a minha história e a de outras as mulheres lésbicas como eu. Não traduz
nossa luta, não traduz o que aprendemos por sermos quem somos, não traduz os
sacrifícios que precisamos fazer por nossa felicidade, não traduz as violências
que sofremos constantemente, não traduz nossa constante invisibilidade diante
da sociedade… É vazio.
Ser
lésbica é sentir-se diferente, sozinha, errada, doente, odiada e tantos outros
adjetivos assim que percebo que não faço parte da heteronormatividade, daquilo
que a sociedade diz que é o “certo”.
Ser
lésbica é sentir pavor e pânico só de cogitar contar pra minha família, amigos
ou colegas de trabalho que eu me relaciono com outras mulheres. Medo de perder
o emprego. Medo de ser abandonada pela família. Medo de descobrir que esses
amigos não eram amigos verdadeiros. Medo de ser espancada. De ser expulsa de
casa. De ser enviada para um hospital psiquiátrico.
Ser
lésbica é sofrer bullying, diferenciação, segregação e tantas outras ações de
preconceito praticadas pelos funcionários do ambiente que deveria me educar
para ser um adulto melhor. É ser expulsa de festas da escola. É sofrer
tentativas de expulsão do banheiro feminino na escola porque às vezes não me
visto como as outras meninas e “pareço um menino”. É sofrer ameaças diariamente
e ter meu desempenho acadêmico cada vez mais baixo por conta da depressão e, de
repente, até abandonar o ensino.
Ser
lésbica é ser recusada numa entrevista de emprego porque tenho cabelo curto e
me recuso a usar salto. Ou, já empregada, ser ridicularizada no ambiente de
trabalho e assinar uma carta de demissão com uma justificativa totalmente falsa
que, no fim das contas, só quer dizer que não querem uma sapatão na empresa.
Ser
lésbica é sofrer estupro corretivo de familiares, conhecidos e desconhecidos,
porque eles acham que se me estuprarem eu vou “aprender a gostar de homem”. O
que só me faz desenvolver trauma de homem. Trauma de família. Trauma de sexo.
Trauma de mim mesma. Desenvolver dificuldade em criar vínculo emocional com
qualquer pessoa. Desenvolver distúrbios psicológicos sérios. Frequentar um
terapeuta por anos e nunca conseguir colocar minha cabeça no lugar outra
vez. É, até mesmo, desenvolver comportamento suicida e acabar não
sobrevivendo até a fase adulta, pois a pressão é tanta que o suicídio me parece
a única saída.
Ser
lésbica é ser espancada na rua voltando da escola, do trabalho, da casa do
amigo, da balada. É simplesmente estar andando tranquilamente e ser abordada
por alguém que quer ver sangue saindo do meu corpo simplesmente por não me
compreender e, por isso, não aceita minha existência. É enxergar a crueldade
gratuita nos olhos e nos punhos de estranhos. É gritar por ajuda e ninguém aparecer.
É tentar abrir uma ocorrência na delegacia e duvidarem do que aconteceu,
dizerem que eu devo ter provocado, que não tem como registrar como homofobia
porque homofobia não é crime.
Ser
lésbica é namorar escondido e nunca demonstrar carinho pela pessoa que mais amo
em público, por mais singelo que seja, porque ainda estou no armário e morro de
medo de alguém ver e minha vida desmoronar. E, por isso, perder minha namorada
que amo tanto, porque ela não aguenta mais ser escondida como um crime.
Ser
lésbica é ter medo de falar minha orientação sexual pra ginecologista e ela não
me atender direito. É querer fazer sexo seguro pra me prevenir contra DSTs e
não ter um contraceptivo pensado na minha experiência sexual, porque o governo
não se importa. É ter que usar plástico filme de cozinha, dedos de luva de
borracha… É me sentir invisível. É ver meu sexo deixando de ser algo íntimo meu
e sendo transformado em roteiro de filme pornográfico focado em satisfazer
prazer de homens.
Ser
lésbica é, de repente, acreditar em Deus e tentar procurar acolhimento e
compreensão em uma igreja na qual eu possa orar/rezar e me sentir amada
(afinal, “Deus é amor”), mas entrar lá e ouvir um pastor/padre dizendo que eu
vou para o inferno, que Deus me ama (mas odeia o que eu faço), que pra me
salvar eu tenho que mudar, que eu estou com o demônio no meu corpo, que minha
vida é um grande pecado, que eu não posso continuar lá dentro a menos que passe
por sessões aterrorizantes de “purificação” que nunca vão funcionar, apenas me
machucar. E, então, se eu não deixar de acreditar em Deus, me afastar das
igrejas por não ser considerada digna de estar nelas.
Ser
lésbica é já ter saído do armário e achar que finalmente tudo vai ficar bem,
mas ser expulsa do restaurante porque dei um selinho na minha esposa. Ou sofrer
assédio sexual na rua de homens nojentos que enxergam meu relacionamento como
fetiche e material de punheta. É passear de mãos dadas com minha esposa e ouvir
uma senhorinha comentando que nós somos nojentas e que o mundo está perdido.
Leia
também: Como o impeachment ameaça os direitos LGBT na política.
Ser
lésbica é comemorar que finalmente no Brasil posso casar com minha namorada,
porém ainda vamos ter que lutar uma vida pra conseguir adotar uma criança e
construir uma família. Ainda corremos o risco de, quando eu morrer, ela não
receber pensão, ela não poder entrar no registro de adoção e perder a guarda da
criança que ajudou a criar, ela precisar de autorização pra uma cirurgia de
emergência e eu depender que um dos familiares homofóbicos que a
expulsaram de casa autorizem, pois eu não posso.
Ser
lésbica é construir minha família, adotar bebê ou fazer inseminação artificial
(seja o que for), e meus filhos voltarem todos os dias chorando por sofrerem
preconceito na escola por terem duas mães. E eu assistir eles sofrendo de novo
tudo aquilo que sofri porque o tempo passa e a sociedade continua ignorante e
cruel, até mesmo com crianças inocentes e sem maldade.
Mas
ser lésbica também é, por causa de tudo isso, ser uma pessoa muito mais forte.
Saber exatamente quem eu sou, o que eu quero e pra onde vou. Ser lésbica é ser
corajosa, é aprender a ter orgulho de mim mesma, é compreender o amor na sua
forma mais pura e sincera, é aprender a compreender o amor das outras pessoas
também, e compreender a diversidade, o respeito, a compaixão… Ser lésbica é
enxergar a diversidade e todas as suas cores, é cada dia estudar mais e mais
pra deixar de ser ignorante e entender o próximo pra não praticar preconceito
assim como aqueles que fizeram tanto mal pra mim. Ser lésbica é aprender a
lutar por um amor que parece impossível, é valorizar as amizades que não me
abandonam nas horas mais difíceis, é perdoar todos aqueles que cospem em mim, é
olhar nos olhos da pessoa que amo e encontrar forças pra me orgulhar de quem
sou. Ser lésbica é estufar o peito na rua como um escudo anti crueldade, é
aprender a sobrepor o canto dos passarinhos aos xingamentos dos incoerentes, é
sorrir mesmo quando tudo parece ser negado a mim, é encontrar uma janela em
cada porta fechada.
Ser
lésbica é ser uma guerreira. É vestir a bandeira do arco-íris, levantar os
punhos pro alto e lutar pelos meus direitos. É lutar por uma mudança
infelizmente tão lenta que talvez eu nem chegue a vivê-la, mas ter a
consciência limpa e a esperança feliz de que as lésbicas que virão depois de
mim terão oportunidade de viver muito mais felicidade do que tristeza; muito
mais aceitação do que preconceito; muito mais amor do que fetichização; muito
mais carinho do que violência; muito mais atenção do que esquecimento.
Ser
lésbica é, mesmo sendo maltratada por ser quem sou, não desejar a morte nem o
mal de ninguém; mas, sim, desejar apenas que as mentes daqueles que me fazem
mal sejam iluminadas com conhecimento, pra que eles deixem de repelir aquilo
que não conhecem e evoluam.
Ser
lésbica é o que me faz ser uma adulta consciente, que percebe e se importa com
grande parte do que há de errado nesse mundo, que me faz desejar um mundo
melhor. É o que me faz ter vontade de ter bondade no coração, de ajudar o próximo,
de ser legal, de ser responsável, de honrar minha palavra, de ter caráter, de
ser bem sucedida, de ficar longe de tudo que pode me destruir.
Ser
lésbica é saber que ser lésbica é muito mais do que uma orientação sexual. É
uma formação de caráter, é um ato político, é uma maneira de amar, é um olhar
sobre a vida, é um aprendizado. Ser lésbica é algo muito maior do que a grande
maioria pode entender. Ser lésbica é uma luz que existe dentro de mim e nunca
deixa de brilhar.
Ser
lésbica é algo que ainda estou aprendendo direito o que realmente é.
Você
sabe o que é ser lésbica?
Como
Ter uma boa Relação homo afetiva
Ter
uma relação lésbica já é, na maioria dos casos, mais complicado do que uma
relação heterossexual. Não devido ao relacionamento em si, mas graças à
sociedade em que vivemos que nos coloca ainda mais pressão.
As
relações amorosas têm problemas, e as lésbicas não são exceção! Por vezes
precisamos apenas de nos concentrar na relação e fazer um esforço para as
melhorar.
Hoje
partilhamos 10 Dicas para melhorar uma relação lésbica.
Melhorar
a relação lésbica – 10 Dicas simples
Não
é difícil melhor uma relação lésbica, aliás, não é difícil melhorar nenhuma
relação, só precisamos de nos esforçar mesmo!
Muitas vezes as relações acabam por terminar porque simplesmente demos as coisas como garantidas e deixámos de tentar!
Muitas vezes as relações acabam por terminar porque simplesmente demos as coisas como garantidas e deixámos de tentar!
Precisa
de melhor a sua relação? Vamos às 10 dicas?
1-
Converse – Pode parecer simples, mas a
falta de diálogo ainda é uma das principais causas dos fins de relacionamento.
Andamos sempre tão ocupadas que por vezes nos esquecemos da pessoa que está ao
nosso lado. Principalmente se se tratar de uma relação recente onde possam
estar a sofrer
de discriminação. Não deixem que a vida se coloque entre vós!
1-
Deixe a competição de lado – A competição é natural em
qualquer relacionamento, mas está ainda mais presente em relacionamentos
homossexuais. Não tentem ser sempre superiores em tudo… São um casal, uma
equipa e não concorrentes.
2-
Aprenda a respeitar as diferenças –
As pessoas nem sempre reagem como nós desejamos! Quer sair e a sua companheira
quer dormir? São diferenças que devem ser absorvidas, porque, afinal, todos
temos direitos a ser quem somos.
3-
Discutam como se sentem na relação – Ser
lésbica e ter uma relação assumida pode não ser simples. Conversem sobre o
assunto e decidam se vão ou não assumir, se vão esconder em determinados
locais… Em suma, vejam se estão de acordo neste campo para não existir
surpresas. Novamente, conversem!
4-
Preparem surpresas – Toda a gente gosta de ser
surpreendida! Se preparar uma surpresa para a sua namorada ela vai sentir-se
novamente amada, vai saber que você pensou nela! Quem não quer isso?
Preparar surpresas
no dia dos namorados é ótimo, mas tente fazê-lo também em dias
normais.
5-
Dividam tarefas – Se vivem juntas, dividam as
tarefas domésticas! Lá porque uma costuma fazer tudo, não quer dizer que este
feliz com isso. Partilhem o fardo.
6-
Explorem bastante o sexo – O sexo pode terminar uma
relação, principalmente se se tornar uma sombra entre vós. Se acham que algo
está errado, é hora de sentar e conversar.
8-
Não tente mudar a sua parceira –
Infelizmente isso é muito mais comum do que pode pensar. Ao início começa por
mudar poucas coisas, depois vai aumentando as exigências… E pode até parecer
que ela está a aceitar, até que um dia ela se cansa de não poder ser ela mesma.
9-
Ceder na hora certa – Ninguém gosta de ceder, muito
menos nós, mulheres! Mas numa relação, com pessoas de que realmente gostamos,
alguma vai ter que ceder. Não queira ganhar a batalha e perder a guerra.
10-
Sejam honestas – A dica mais importante de todas
e que muitas vezes nos esquecemos. A mulher que tem ao seu lado é a sua
companheira, a sua parceira, a sua cara-metade. Trate-a como tal.
Fonte: http://www.lgbt.pt/
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